A rivalidade entre Flamengo e Vasco, que coloca frente a frente as duas maiores torcidas do estado do Rio de Janeiro, atravessa um momento marcado por uma disparidade notável nos últimos encontros. Neste domingo, às 17h45, no estádio Nilton Santos, os gigantes cariocas voltam a se enfrentar pela semifinal do Campeonato Carioca, em partida que promete emoção e intensidade.
Nos últimos 30 confrontos entre ambos, o Flamengo tem dominado amplamente, com apenas duas vitórias registradas pelo Vasco. Essa diferença fez surgir questionamentos sobre como o retrospecto recente pode influenciar na percepção da rivalidade histórica entre esses dois clubes.
A força da história
Para muitos especialistas, entretanto, a rivalidade entre Flamengo e Vasco transcende números recentes. “Não importa quem esteja melhor ou pior no momento. A rivalidade é profunda e vai além dos resultados momentâneos”, avalia Luizão, ex-atacante que vestiu as camisas de ambos os times e foi protagonista em decisões memoráveis. Ele conquistou a Libertadores de 1998 com o Vasco e a Copa do Brasil de 2006 pelo Flamengo, derrotando justamente o cruz-maltino.
Luizão lembra que o Flamengo começou sua reconstrução financeira e estrutural no início dos anos 2010, enquanto o Vasco enfrentava dificuldades administrativas e esportivas. “Desde a gestão de Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo conseguiu organizar-se melhor. Já o Vasco vem sofrendo com instabilidades há anos.”
Apesar das adversidades atuais, o Clássico dos Milhões continua sendo visto como o mais importante do futebol carioca. “Jogar Flamengo x Vasco sempre foi especial. Não existe outro clássico igual”, ressalta o ex-jogador.
Um período de virada
Até meados de 2017, o cenário era diferente. Entre 2015 e 2017, o Vasco havia construído uma sequência invicta contra o Flamengo, com seis vitórias e três empates. No entanto, tudo mudou após um duelo histórico no Carnaval de 2017, quando o Flamengo venceu por 1 a 0, gol de Diego Ribas, em Volta Redonda. Desde então, o rubro-negro praticamente não perde para o rival.
O jornalista Carlos Eduardo Mansur explica que essa diferença reflete problemas estruturais enfrentados pelo Vasco nos últimos anos. “Houve uma série de erros políticos, administrativos e financeiros que afetaram diretamente o desempenho do clube dentro de campo. Enquanto isso, o Flamengo investiu em projetos sólidos, fortaleceu suas receitas e passou a atrair jogadores de alto nível.”
Mansur destaca ainda que o processo de venda do Vasco para uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) trouxe mais complexidade ao clube. “Foi um movimento mal conduzido, resultando em dificuldades para gerar receitas consistentes.” Em contrapartida, o Flamengo consolidou-se como uma potência econômica e esportiva, o que explica sua superioridade recente.
Rivalidade eterna
Embora o retrospecto atual favoreça amplamente o Flamengo, historiadores e pesquisadores garantem que a rivalidade entre os dois clubes seguirá viva independentemente dos resultados. Bruno Pagano, autor do livro “Russinho: o inigualável êxtase do gol”, lembra que, entre 1945 e 1951, o Vasco viveu uma fase dourada com o Expresso da Vitória, acumulando 20 partidas sem perder para o Flamengo. Mesmo assim, essa supremacia não apagou a rivalidade geracional.
“Rivalidades como essa não são definidas apenas por períodos curtos. Elas têm raízes profundas na história e na paixão dos torcedores”, argumenta Maurício Neves de Jesus, também escritor e pesquisador. Para ele, mesmo quem começou a torcer recentemente pode perceber a grandeza dessa disputa ao analisar o contexto histórico.
Por mais que o presente indique vantagem para o Flamengo, o clássico segue despertando emoções intensas em ambos os lados. E, no futebol, onde tudo pode acontecer, o Vasco ainda sonha com dias melhores e com a possibilidade de reverter essa tendência. Até lá, a rivalidade continuará alimentando paixões e provocando debates apaixonados entre rubro-negros e cruz-maltinos.
